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quarta-feira, 26 de agosto de 2009

ELEIÇÕES 2010 - Novas caras na sucessão presidencial

A análise das vitórias dos três presidentes eleitos depois da ditadura revela que, no Brasil, o novo sempre vence. Novo, no caso, não é questão de idade nem de experiência. Em 1994, Fernando Henrique tinha 63 anos, contra 48 de Lula. E em 2002, Lula bateu um candidato mais velho (José Serra, 60) e dois mais novos (Anthony Garotinho, 42, e Ciro Gomes, 44). Fernando Collor tinha sido governador de Alagoas e FHC ministro das Relações Exteriores e da Fazenda antes de se elegerem. Lula tinha apenas um mandato de deputado constituinte quando superou três vastos currículos no mundo da administração pública.
Neste ano, completam-se duas décadas da marcante primeira eleição da redemocratização. Em 1989, havia 22 candidatos e há pouco mais de um ano da data da eleição (como agora) ninguém apostava que o segundo turno se daria entre Collor, o novo da direita, e Lula, o novo da esquerda. Quem mandava no noticiário e nas articulações políticas
Eram as grandes forças estabelecidas. Ulysses Guimarães, do PMDB, e Aureliano Chaves, do PFL, tinham as duas maiores máquinas partidárias do País. Ulysses teve 4% dos votos, Aureliano menos de 1%.
O bicho-papão se chamava Leonel Brizola (PDT), visto (e temido) como alguém fadado a ser presidente. Perdeu a chance de chegar ao segundo turno por 450 mil votos. Em 1994, teve apenas 3% dos votos e acabou como vice de Lula na eleição seguinte. Collor era novo porque trouxe à tona a agenda esquecida pela estatizante Constituição de 1988. Pregava a reforma administrativa e abertura econômica. Lula representava uma esquerda pós-1964, desatrelada do Estado, sem laços com o totalitarismo soviético numa época em que o Muro de Berlim começava a ruir. Suas agendas eram opostas, mas ambos carregavam a mais forte dose real de mudança dentre os 22 programas eleitorais.
Cinco anos depois, o embate entre o novo e o antigo se repetiu. Em maio de 1994, um mês depois de lançar a candidatura, junto com o embrião do Plano Real, FHC tinha 16% das intenções de voto, segundo o DataFolha, contra 42% de Lula. Mas o PT não soube captar a extraordinária mudança trazida pelo controle da inflação. FHC encarnou o novo e venceu o primeiro turno com 34 milhões de votos, o dobro do que foi dado ao PT. Em 2002, Lula entendeu o recado do eleitor e se renovou com a Carta aos Brasileiros. Serra não superou a desconfiança do intervencionismo, Garotinho foi barrado pelo populismo e Ciro pelo temperamento histriônico. Cada um a seu modo, os oponentes de Lula representavam facetas do Brasil antigo.
De maneira simplificada, o eleitor fez de cada disputa presidencial uma decisão estratégica de mudança. Collor simbolizou a abertura econômica, a redução do Estado e, por fim, graças ao impeachment , o grande teste da maturidade política e do respeito às regras. FHC, a estabilidade econômica. E Lula, a melhoria social, com a valorização do mercado interno. Ou seja, democracia, responsabilidade econômica, distribuição de renda e segurança jurídica: o Brasil tem hoje os pilares básicos para avançar no caminho do Primeiro Mundo. Nesses 20 anos, o eleitorado passou de 82 milhões para 130 milhões de pessoas – e pela primeira vez, em 2010, os que nasceram depois da ditadura serão maioria. Outra vez uma eleição presidencial se dará no embate entre o moderno e o arcaico. A agenda das mudanças deve vencer mais uma – mas ela ainda está aí, em aberto, esperando quem a represente.”
Luciano Suassuna
Revista ISTOÉ, p. 41, 19 AGO/2009, ANO 32, Nº 2075
(O negrito das duas últimas sentenças não consta do original)

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